terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Retrô" ou Miserável?

Ao procurar entender o remorso, afasto-me cada vez mais do arrependimento.

Se você já passou por aqueles momentos de êxtase e em que sonhava ter a mais íntima e sincera relação com Deus (sim, como a criança descrita na Bíblia) e agora vive nessa mornidão - incômoda - confortável, sabe bem do que digo.


No mais sórdido momento de fraqueza, no instante da sua solidão abatedora, no efêmero piscar de olhos que impede seu vislumbre do poder, glória e majestade do Pai, você cai. E nesse momento você tem duas alternativas: seguir o ritual - parar, ajoelhar-se, orar e pedir perdão com auto-comiseração -; ou mudar de plano.

No ritual, você faz o que é de praxe, o que é socialmente "aceitável". Treina a coreografia, ensaia as falas e finalmente apresenta a peça do seu drama. Pode ser com choros, lágrimas, calças rasgadas à altura do joelho e orações fervorosas que soam como Davi a clamar por seu primeiro filho com Bate-Seba. Não importa, desde que a burocracia no Tribunal do Céu seja completada e todos os trâmites sejam assinados e lavrados pelo "Santo dos Dogmas e Religiões, Padrinho dos Gestos e Bons Costumes que Nos Levam à Vida Eterna". Você sente-se incomodado com sua própria atitude, mas prefere seguir os rituais e fingir que nada aconteceu para jogar a sujeira debaixo do tapete. Bem mísero, é um remorso nada digno de um Deus que criou todo o Universo e é adorado por reis, montes e forças da natureza.

Por outro lado, mudar de plano é um conceito antigo, quase fora de moda que, de um modo engraçado e paradoxal que só mesmo Deus poderia inventar, renega toda a liturgia, julgamentos e pagamentos para nos levar a uma graça e uma misericórdia gratuita, livre, relacionada e verdadeira com Jesus e seu Pai - nosso Pai. Imagine só, nós, que merecemos morrer depois de escolher a solidão e a tristeza ao invés de um Deus de amor, não precisamos seguir inúmeros trâmites para nos quebrantarmos e pedir perdão para Ele.

Se você vive sua fé através de cada gesto e atitude, se você expressa seu amor por Jesus constantemente através de seus atos cotidianos e não somente admira ou concorda com as idéias escritas na Bíblia, é certo que você tremerá de medo e tristeza quando perceber a loucura que acabara de cometer ao renegar o amor e a presença do Pai mais amoroso e confiável que existe. E essa agonia o levará a afastar-se de tudo o que lhe tirou a alegria de ser filho de Deus. Gerará uma irreverência respeitosa - não um legalismo frio e irracional, dogmático e ritualístico - que lhe colocará humilhado, mas aliviado, prostrado, mas mais elevado do que montes, quebrantado, mas mais íntegro do que rochas. E o melhor de tudo isso: Ele te aceita assim, como estás, se você realmente mexeu seu encéfalo e seu coração e percebeu a insanidade que cometeu.

Pensar e viver de fé em amor com nossos corações e mentes, isso é "retrô". Mas dizem que o "retrô" jamais sai de moda, sempre volta com outro nome. Ontem diziam arrependimento, hoje dizem relacionamento sincero, amanhã, quem sabe o que dirão?


Adiwardana, Natanael S.

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